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O XI Simpósio Internacional IHU: “O (des)governo biopolítico da vida humana”, parceria entre o IHU, a Unisinos e os PPGs de Ciências Sociais, Direito, Filosofia, Saúde Coletiva, irá ocorrer entre os dias 13 e 16 de setembro de 2010, na Unisinos.

Com a presença de diversos especialistas nacionais e internacionais, o Simpósio quer promover um debate transdisciplinar sobre a vida humana como objeto do poder e recurso útil nas estratégias biopolíticas das sociedades contemporâneas.

Dentro da programação do evento, está prevista a apresentação de comunicações científicas e pôsteres. Por isso, a Comissão Organizadora convida a comunidade científica, em especial os pesquisadores nas áreas de Filosofia, Direito, Ciências Sociais e Políticas, Teologia, Antropologia, Bioética, Educação, Psicologia e áreas afins para participar do Simpósio com seus trabalhos.

Os eixos temáticos são os seguintes:

1 – Os modos biopolíticos da vida humana e os impactos no trabalho e na (re)produção da vida;
2 – O (des)governo biopolítico da vida humana a partir de um olhar filosófico;
3 – O controle social da vida humana, os processos de normalização dos sujeitos e formas de exceção jurídica;
4 – Implicações biopolíticas relacionadas à bioética;
5 – A sujeição dos indivíduos nos processos educativos;
6 – A secularização do governo divino do mundo nos dispositivos de governo dos homens;
7 – Possibilidades de controle ou autonomia da psique na constituição da subjetividade.

O recebimento de comunicações e pôsteres será até o dia 30 de junho. Já a lista dos trabalhos aceitos será divulgada no dia 31 de julho.

Os participantes que enviarem seus trabalhos irão receber retorno no prazo de até 15 dias. Assim, caso alguém queira encaminhar o pedido para algum órgão de fomento, terá o retorno para solicitar, em tempo hábil, o auxílio que desejar.

Mais detalhes sobre a programação do XI Simpósio Internacional IHU: “O (des)governo biopolítico da vida humana” pode ser conferida aqui.

Veja a seguir demais detalhes e normas para o envio de sua comunicação e/ou pôster.

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“Nossa linguagem precisa ser simples, concreta, convincente, anedótica, engajadora e humilde”. Como numa festa. Essa é a opinião da Profª. Drª. Mary Hunt, teóloga feminista católica e cofundadora e codiretora do Women’s Alliance for Theology, Ethics and Ritual (WATER), dos EUA, que esteve presente na Unisinos para o X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades.

Durante sua conferência “Narrar Deus hoje: uma reflexão a partir da teologia feminista”, a doutora em teologia pela União Teológica, de Berkeley, Califórnia, abordou questões relativas à linguagem teológica feminista sobre o divino, fazendo uma ampla revisão sobre teólogas que a antecederam nessa questão.

Por outro lado, defendeu que o fato de nomear é uma prioridade para os nomeadores, e a nomeação feminista possui implicações para a mudança teológica e social-eclesial.

“Nenhuma linguagem é inocente. As feministas aprenderam, geralmente com risco, que a linguagem sobre Deus está entre as coisas mais difíceis e mais perigosas a serem trabalhadas, já que pode se tornar estruturas opressivas ou ser um trampolim para a libertação”, defendeu.

Hunt destacou o papel social da linguagem e seu poder nas estruturas sociais. Segundo ela, “a linguagem sobre o divino tem um impacto direto e poderoso na forma como a sociedade é formada”. “Se concordamos que não conhecemos a totalidade do divino, ou mesmo não concordando que exista um Deus, pelo menos precisamos reconhecemos que a nossa linguagem e a nossa conversa-escuta fazem uma grande diferença”, afirmou.

Exemplificando com algumas questões polêmicas – que no final da conferência geraram debate -, a teóloga abordou a ordenação de mulheres, o direito das mulheres a tomar decisões sobre seu próprio corpo e a relação entre pessoas do mesmo sexo. Segundo Hunt, todos esses pontos envolvem a questão da imagem do divino e mostram como a linguagem sobre Deus é importante para a vida cotidiana.

“Assim como as mulheres são excluídas na Igreja, há uma permissão implícita – e em muitos casos explícita – a excluir as mulheres na sociedade”, explicou.

Por fim, sua conferência terminou com festa: para Hunt, o desafio da teologia contemporânea é falar sobre Deus na “festa pós-moderna”, ou seja, apresentar as ideias teológicas em uma linguagem como a de uma festa, para que todos possam entender.

“Então, depois que a festa terminar, veremos como novas ideias foram dançadas, pintadas, pregadas, cantadas e encenadas. Então, finalmente saberemos mais sobre o que tentamos dizer. Até porque nossos esforços são parciais, ajudados talvez pela atmosfera festiva da festa e das libações”, concluiu.

O X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades encerra nesta quinta-feira, 17. Confira aqui a programação de encerramento.

(por Moisés Sbardelotto)

Uma leitura crítica das idéias heideggerianas à cerca da metafísica e da religião. Esta foi a temática do minicurso ministrado pelo Prof. Dr. Ernildo Stein, às 14h30 desta quarta-feira, na sala 1F101. O evento integrou a programação do X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades.

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Em um debate aberto, Stein apresentou o histórico do filósofo alemão Martin Heidegger, um dos grandes pensadores do século XX. Segundo Stein ele foi um filósofo diferente dos demais de sua época. Solitário e vivendo precariamente, Heidegger apoiou suas obras, principalmente, sobre as crises que vivenciou, tanto política, cultural e econômica quanto da religião e da filosofia.

Stein frisou também a divisão de pensamentos sobre Heidegger, sendo o “primeiro Heidegger” aquele que silencia sobre Deus e que fala mais sobre a religião e o “segundo Heidegger”, como aquele que fala muito em Deus e pouco sobre a religião. O filósofo tentou pensar o seu tempo sem os instrumentos científicos de seu tempo, mas com instrumentos de caráter filosófico, segundo Stein. “Hoje, para ser filósofo, é preciso dominar as ciências humanas. Heidegger não fazia isso”, afirma.

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Sobre o conceito de metafísica, Stein afirmou que a condução pela busca de uma explicação final sobre tudo está equivocada. Heidegger também não acreditava nisso, e afirmava que Deus não deveria estar na filosofia. A isto deu o nome de Ontoteologia, a explicação da realidade através da idéia de que Deus não pode ser pensado como justificativa.

A crítica de Heidegger à metafísica e a religião foi destacada. O professor vê esta crítica como uma fundamentação e justificação (conceito de crítica de Kant) e afirmou que ao criticar a metafísica, Heidegger não se retirou da fileira dos pensadores, mas realizou um mergulho mais profundo. A metafísica por Stein seria baseada em três tipos de pensamento: lógica, psicologia e filosofia, sendo esta última uma totalidade. A pós-modernidade também foi questionada, e segundo Stein “não pode ser considerada um período, mas um modo novo de se apresentarem as questões centrais sociais centrais”.

Ernildo Stein fez, ainda, uma observação a respeito do Simpósio. Ele considera a iniciativa do IHU de grande relevância acadêmica, mas acredita que, assim como em diversos simpósios, este se baseia em um jargão, e que os recortes dos temas abordados devem ser melhor trabalhados.

O Simpósio “Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades” se encerra nesta quinta, 17. Confira aqui a programação do último dia do evento.

(por Juliana Spitaliere)

Conferencia Benilton Bezerra 018Segundo Benilton Bezerra Júnior, professor da UERJ, para Freud, a religião é uma grande defesa do sujeito. “Por que os seres humanos inventaram um Deus? Por causa da sua precariedade ontológica”. Essa é a visão do pai da Psicanálise, que acreditava que o ser humano é marcado pelo desamparo, pela pequenez diante dos desafios da vida. Inclusive a experiência entre os humanos seria marcada pela decepção, pelo ódio. Por isso o ser humano cria o sagrado, para se defender. “Deus seria a projeção de nossas fraquezas e fantasias, a resposta para o nosso desamparo diante dos desafios que a morte e a finitude nos colocam. A religião também seria uma maneira de controlar os impulsos humanos”, explica Benilton, durante a conferência “Narrativas de Deus, e a transcendência hoje: uma abordagem a partir da psicanálise”, ministrada na tarde de ontem durante X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades. No entanto, ele enfatiza a importância de entender este pensamento de Freud com base em seu contexto pessoal: ele era um cientista ateu, judeu e anticlerical, e caracterizava a religião como uma grande neurose coletiva.

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Em contraposição, o professor trouxe o pensamento do psicanalista inglês Donald Winnicott, para quem Deus está na ação criadora do ser humano enquanto sujeito. Para Winnicott a religião, o sentimento de sagrado é ativo e não reativo, como defendia Freud.

O professor encerrou sua fala reconhecendo que todos temos dificuldades para lidar com as adversidades, por isso, colocamos os motivos de nossos problemas nas questões físicas, biológicas. “Ninguém mais suporta a dor e o sofrimento. Por isso querem remédio para tudo. E fazem a alegria da indústria farmacêutica”. O grande desafio, finaliza Bezerra, é saber como a religião pode abrir um horizonte de realização amplo.

Para saber mais sobre o tema, leia aqui a mais recente entrevista concedida pelo professor à IHU On-Line.  E na Notícias do Dia de amanhã, aqui nesta página, leia uma nota mais ampla sobre a conferência de Bezerra.

Complexa, porém didática. Assim, foi a conferência proferida pelo Prof. Dr. Christoph Theobald SJ, a primeira na programação de hoje do X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades.

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As narrativas de Deus nua sociedade pós-metafísica. O cristianismo como estilo foi o título da palestra que Theobald dividiu em três partes. Na primeira, ele fala em como pensar a fé em Deus na idade pós-metafísica. Segundo o francês, “situar a sociedade na pós-metafísica não significa não pensar, mas pensar em os diferentes lados”. Assim, segundo ele, “a fé se apresenta no seio da condição pós-metafísica do homem”. Como conseqüência do fim da metafísica, Theobald diz que é a retirada de Deus no campo da inevidência radical, conforme Kant já havia previsto. Significa, portanto, que não precisamos mais, na idade pós-metafísica, colocar Deus em todos os nossos atos, pois o silêncio de Deus torna possível a pluralidade diante do mundo. “A fé é, portanto, um ato de liberdade sem garantia”, afirmou. Já Habermas propõe, diz Theobald, que a definição da era pós-metafísica seja de posições agnósticas que entendem que a fé é diferente do saber. “Habermas busca narrativas que abrem um mundo que se regenera”, apresentou. Mas é na questão da verdade que o padre francês diz que está o principal problema.

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Para ele, a renovação da doutrina kantiana rearticulada e a estrutura doxológica (ou seja, a manifestação gloriosa de Cristo)da fé trazem duas questões muito importantes: a vertente filosófica da fé – “é aqui que podemos introduzir a experiência de estar o mais próximo de si mesmo”, disse ele – e a dimensão doxológica ou teologal da fé. “No plano filosófico o homem aparece como crente que atribui a Deus o status de sujeito”, explicou. E, assim, argumentou Theobald que o ato de fé, nessa era, é resultado de uma síntese que é vivida como encarnação de um desígnio de Deus. E o maio exemplo disso, segundo ele, é a confissão de fé de Paulo. “A fé explicita e extrapola num processo de estimação e de ponderação, tudo aquilo do qual ela dispõe para afrontar situações inéditas de comunicação assimila esta santidade absolutamente não exigível à Deus, visto como aquele que torna possível no seio da história o “imponderável”, e até mesmo o “impossível”.

A segunda parte da conferência foi marcada pela argumentação intitulada “Da ponderação à narração” e Theobald falou sobre as hesitações da teologia narrativa clássica e apontou os debates acerca da afirmação de Jungel de que Deus não tem história, porque Ele é história. “e eu digo: Deus tem histórias”, acrescentou. O filósofo francês falou também sobre que o ato de ponderação demanda tempo e, assim, os pólos singular e coletivo se engendram e dão sentido à vida. “A fé é um ato de avaliação e de ponderação que toma tempo e se inscreve no tempo de uma vida e no tempo da história”, falou. Ele também tratou da pluralidade de figuras da “fé” e pluralidade de narrativas, pois, segundo ele, “Deus pede para ser contado”.

A parte final da conferência foi sobre o princípio da concordância entre forma e conteúdo e os limites da narratividade. E, com isso, Theobald refletiu sobre um princípio estético e teologal, assim como os limites da narratividade. Segundo ele, “o princípio estilístico é também teologal”. Ao finalizar a conferência, Theobald falou sobre o discurso hínico ou doxológico e apontou que não podemos esquecer que a narrativa de Deus é repleta de argumentação e isso não pode faltar nas nossas sociedades.