“O filme é uma profunda meditação tanto antropológica quanto teológica sobre a condição humana e sua inserção no cosmos. Uma reflexão de grande relevância numa época que se propõe ultrapassar o humano para chegar a um pós-humano com a pretensão de ser mais perfeito pela sua remodelação biotecnológica”, escreve o professor no PPG em Saúde Coletiva da Unisinos, José Roque Junges, ao comentar o filme “A Árvore da Vida” de Terrence Malick para o nosso blog.
Estrelado por Brad Pitt, Sean Penn e Jessica Chastain, o drama estadunidense lançado em 2011 e ganhador da Palma de Ouro de Cannes gerou inúmeras discussões nas redes sociais, blogs e fóruns, tendo diversos artigos publicados no site do Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Para dar continuidade ao debate, convidamos o professor Roque a dar sua opinião sobre o longa:
“O filme aborda uma das principais tensões que define e atravessa tanto a experiência humana quanto as dinâmicas cósmicas: natureza e graça. O sistema técnico e mais ainda biotecnológico que determina o atual universo simbólico da sociedade humana tende esquecer essa tensão necessária e benéfica como fautora de vida. Essa constatação aparece no rosto e nas auto-reflexões do filho já adulto rodeado por imensos edifícios no seu ambiente tecnificado de trabalho. A natureza é determinismo, necessidade e violência em tensão dialética com a graça que é liberdade, espontaneidade e amor.
A cultura pós-moderna tende acentuar um ou outro polo, levando a reducionismos que estão na raiz de muitas patologias da sociedade atual. No filme, essa tensão está presente principalmente no micro universo das relações familiares pelo rigorismo do pai e a ternura da mãe, nas brincadeiras entre os meninos, mas também no macro universo pela beleza e grandiosidade do surgimento do universo ou quando, por exemplo, o dinossauro retém a sua violência diante da vítima. O esquecimento dessa tensão pode ter a sua origem no próprio esquecimento de Deus na mentalidade hodierna.
O filme certamente propõe essa reflexão e por isso provoca reações contrárias. Esse olvido de Deus conduz à negação da necessidade de salvação para o ser humano como única maneira de superar essa tensão entre natureza e graça pela redenção transcendente do humano e de toda criação. Ela aparece no final do filme quando os personagens aparecem reconciliados num ambiente de paz e reconciliação, no qual natureza e graça estão integrados harmonicamente, respirando-se já um ar de escatologia.”
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