“Deixe para o passado o estereótipo das botas e uniformes, porque agora o chão de fábrica também é elegante, usa terno e gravata, usa tênis All Star e camisa xadrez, usa salto alto e vestido”, escreve Ricardo Machado, na Reportagem da Semana intitulada O “encarpetado” chão de fábrica.
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“Essa nova lógica do trabalho tende a reificar a coisificação das pessoas. Hoje não tenho grandes amigos, pois as pessoas que trabalham comigo poderão vir a ser meus concorrentes para uma futura vaga. Isso para um jovem de 20 e poucos anos é muito duro”, diz José Roberto Montes Heloani, professor e pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, na área de Gestão, Saúde e Subjetividade. E complementa dizendo que “essa forma diferenciada de organizar o trabalho tem obviamente benefícios, pontos positivos, mas também tem muitos pontos negativos. Não é a toa que ainda nesta década, até 2020, segundo relatórios internacionais, a segunda causa de afastamento do trabalho será o transtorno mental, sendo que a mais recorrente será a depressão. Isso é gravíssimo. Uma característica muito forte desse modelo de organização do trabalho é a solidão. Se está rodeado de pessoas, mas verdadeiramente se está só”.
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Ruy Braga, especialista em Sociologia do Trabalho, expressa que “nós temos grandes desafios do ponto de vista do mundo do trabalho, da mobilização sindical pela frente, de defesa e ampliação dos direitos trabalhistas”. “Penso que a melhor maneira de se lidar com esses desafios, do ponto de vista da sociologia crítica e do trabalho, é pensar a fundo esses problemas em uma perspectiva independente dos governos e das empresas, assumindo o ponto de vista da sociedade civil e dos trabalhadores”, aponta Braga.
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O coordenador do Observatório da Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados da USP, Mário Sergio Salerno, diz que “hoje, você planeja a atividade (ou programa essa atividade) em computador, o que não é muito difícil de fazer, e manda a máquina executar. Isso significa que a sua relação com o meio de trabalho muda e passa a ser mais abstrata, porque no modo operacional você vai executando e pode ir mudando o planejamento. Mas, quando você programa, isso vai até o fim. A abstração é maior, a sua relação com o produto que está sendo feito é diferente”.
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“A crise de produtividade do sistema de produção capitalista em anos recentes e as demandas dela decorrentes, em um mercado cada vez mais globalizado, resultaram em mudanças importantes no mundo do trabalho”, conclui José Ricardo Ramalho.
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Confira também nesta edição, a “Memória” sobre o sociólogo francês Robert Castel que faleceu no último dia 12 de março. Richard Poulin concedeu entrevista sobre “O caso de amor entre a prostituição internacional e o capitalismo”. No artigo da semana, confira “Povos indígenas não cabem no projeto da atual esquerda”, com Cesar Sanson, docente na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
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Por Luana Taís Nyland