Na comemoração dos 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II, a cidade de São Leopoldo/RS vai sediar, entre os dias 7 e 11 de outubro, o Congresso Continental de Teologia. O evento também marca os 40 anos do lançamento do livro Teologia da Libertação, de Gustavo Gutiérrez.
No último sábado (05/05), publicamos a primeira parte da entrevista com as integrantes da Fundação Amerindia Continental, de Montevideo (Uruguai), Sylvia Alsina e Rosário Hermano, que estão organizando o encontro. O texto gira em torno do tema do congresso e dos resultados do Concílio Vaticano II.
A segunda parte segue abaixo, tratando da importância de um novo debate acerca dos 50 anos do concílio, da efetividade da teologia da libertação, e dos desafios para a teologia.
IHU-Online – Comemorando 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II e 40 anos desde a publicação do livro Teologia da Libertação (Gustavo Gutiérrez). Qual é a importância de discutir os 50 anos do Conselho para a Igreja na cultura contemporânea?
Ameríndia – O Concílio Vaticano II foi realizado em Roma por quatro anos (1962 a 1965) com a participação de todos os bispos do mundo daquela época. Essa assembléia fez uma revisão profunda e crítica da Igreja, e propôs mudanças importantes na teologia, na Liturgia e sua relação com o mundo. Deu inicio a um processo de reforma com resultados positivos no primeiro, que diminuiu com o tempo.
O Concílio elaborou 14 documentos programáticos. Entre eles destacamos: a Constituição Dogmática “Lumen Gentium”, cujo nome significa “luz para as pessoas”, sobre a vida interna da Igreja, e a Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo Moderno “Gaudium et Spes”, que significa “alegria e esperança para o mundo “.
Os dois referenciais mostram a perspectiva do evento: re-ler a partir do novo contexto em que vivemos a tradição latino-americana tecida em torno da recepção criativa do Vaticano II por Medellin, pelas práticas de comunidades eclesiais inseridas em um contexto de injustiça social, a centralidade da Palavra e leitura popular da Bíblia, a opção pelos pobres, o testemunho dos mártires das causas sociais e nossa característica reflexão teológica, em chave liberadora.
IHU-Online – Como vocês percebem a efetividade da teologia da libertação? Ela ainda está ativa na Igreja? Onde ela é mais ativa na América?
Ameríndia – Na América Latina, a recepção e aplicação do Concílio Vaticano II teve a sua expressão na teologia da libertação como uma reflexão teológica. Isso é um primeiro relacionamento e articulação precisa ser feito. E quando ele é feito, a Igreja na América Latina reconhece esse sacramento de libertação para os pobres. E a partir daí é que vemos a construção do Reino. Esta teologia está viva e presente em todo o continente, desde diferentes áreas e desde diferentes níveis, seja a partir das CEBs, dos círculos bíblicos, da leitura popular da Bíblia, etc. De lá, continuam a refletir sobre a vida, a dominação e a libertação. Também a partir do nível pastoral, de onde se situa a reflexão de muitos leigos, pastores, bispos e também desde o nível acadêmico dos teólogos que escrevem, ensinam, aconselham as comunidades e nunca perdem o contato com a vida dos pobres.
IHU-Online – O objetivo do Congresso é por encima de todo olhar para o futuro e questionar aos desafios e as tarefas da teologia na América Latina. Você acredita que podem surgir idéias para um novo Concílio?
Ameríndia – Todo o Congresso é prospectivo, mas especialmente no último dia de trabalho, se quer enfatizar o olhar para o futuro. Identificar os novos desafios e tarefas para a teologia no Continente é o foco do Congresso. O término do Congresso é o momento de recolher as contribuições de seus participantes, em vista de uma teologia que seja alimento na práxis da fé das nossas comunidades eclesiais, inseridas profeticamente no mundo de hoje, particularmente em um Continente injusto e excludente. Se a partir daqui surgem idéias para um novo Concilio, isso não pode sabe-o, mais sim aguardamos que surjam idéias que mobilizem toda a comunidade teológica. “A teologia precisa continuar sendo esperança para os pobres e excluídos”.
Confira a primeira parte da entrevista aqui.
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