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Há 130 anos começava a luta dos trabalhadores e trabalhadoras por seus direitos. Uma greve geral em Chicago, Estados Unidos, nos primeiros dias de maio de 1886 marcou a data em que se celebra a busca por melhores condições laborais.

De 3 a 4 de maio uma paralisação com a participação de milhares de trabalhadores, que reivindicavam a redução da jornada de trabalho de 16 horas para 8 horas diárias, culminou na morte de 22 pessoas e em dezenas de feridos.

Três anos mais tarde no dia 20 de junho, na França, a Internacional Socialista decide convocar anualmente, no dia 1º de maio, uma greve geral para que os trabalhadores e trabalhadoras pudessem batalhar por seus direitos. A data escolhida foi em homenagem aos dias de Chicago.

Imagem: www.educadores.diaadia.pr.gov.br

Em 1º de maio de 1891 é realizada uma grande manifestação no norte da França, que dispersada pela polícia acaba com a vida de dez manifestantes. Posteriormente a Internacional Socialista de Bruxelas, na Bélgica, torna a data o dia mundial do pleito por melhores condições laborais. Em 1919 o senado francês reconhece a jornada de 8 horas diárias e o 1º de maio como feriado, fazendo com que, mais tarde, diversos outros países legitimassem a data em homenagem aos trabalhadores.

Desumanização

No entanto, a luta por melhores condições de trabalho nunca deixou de existir e ser tema de discussões. E é isso que se apresenta na edição 233 dos Cadernos IHU ideias, de autoria de Elsa Bevian, intitulado Capitalismo biocognitivo e trabalho: desafios à saúde e segurança. A edição aponta para a precarização constante das condições de trabalho e as consequências desta situação, com o “crescente adoecimento físico e mental dos trabalhadores”.

No texto, a professora destaca a desumanização que emerge do capitalismo biocognitivo que leva a situações degradantes dentro das empresas, com uma pressão cada vez maior pela maximização da produção com o menor custo. Segundo Elsa, “a tecnologia está substituindo trabalhadores e eliminando postos de trabalho em todos os ramos econômicos, em larga escala, no planeta. Há mais exigências das empresas sobre os trabalhadores: explorar ao máximo para diminuir o custo, reestruturação produtiva, sistema célula, em que o próprio trabalhador é o “lobo” do trabalhador; não há mais solidariedade, amizade, nem humanismo no ambiente de trabalho, só cobranças e exigências”.

Resistência

Elsa Bevian frisa que precisamos mudar esse quadro e enfrentar o modelo capitalista, que aliado ao processo de financeirização da vida torna-se obscuro. E ressalta a luta não é fácil, mas que “o capitalismo não pode tudo! O Estado deve permitir a resistência, para que sejamos governados um pouco menos. Não dá para primeiro esperar uma sociedade totalmente perfeita, para que seja possível melhorar a sociedade em que se vive; também é ilusão acreditarmos que vamos conseguir resolver tudo. A resistência hoje é mais difícil, porque a economia é global e a política é local. A ética não é universal, porque a política não é universal, porém as pessoas não são só totalmente governáveis, também têm capacidade de se insurgir, especialmente em sociedades democráticas”.

Elsa ainda nos convoca a questionar a pensar sobre outras alternativas com relação ao mundo do trabalho. “Como podemos alimentar o desejo e a possibilidade de sermos um pouco mais capazes de viver com os outros de forma livre? Como podemos ainda nos encantar pela política e nos encontrar na política?”; e assim nos propõe a criar relações de resistência.

Foto: Leslie Chavez / IHU

Elsa Cristine Bevian

É professora titular do Departamento de Direito pela Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB, onde leciona Direito do Trabalho e Direito Sindical e coordenadora do Grupo de Pesquisas Trabalho, Constituição e Globalização na mesma instituição. Possui doutorado em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Durante o doutorado, passou pela Universidade Rovira i Virgili, em Tarragona, e pelo Instituto de Pesquisas Sociais (Institut für Sozialforschung), em Frankfurt. Sua Tese doutoral versa sobre “O Adoecimento dos Trabalhadores com a Globalização da Economia e Espaços Políticos de Resistência”. É mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí – Univali, possui graduação em Direito pela FURB.

O mundo do trabalho

O mundo do trabalho, principalmente o brasileiro, anualmente é tema de discussão da Revista IHU On-Line, que sempre faz memória ao dia 1º de maio publicando uma edição da revista à luz de melhores condições de trabalho. Este ano a edição será publicada no dia 2 maio. Confira nesse dia a íntegra da revista aqui.

Confira todas as edições da IHU On-Line já publicadas sobre a luta dos trabalhadores e trabalhadoras por melhores condições:

Por Cristina Guerini

O Instituto Humanitas Unisinos – IHU lança, no próximo dia 9/12, das 17h às 18h, a versão brasileira do livro A recepção do Concílio Vaticano II. I. Acesso à fonte (La Réception du Concile Vatican II: Accéder à la source. Paris: du Cerf, 2009), do professor Christoph Theobald.

O lançamento do livro publicado pela Editora Unisinos, será feito por ocasião dos 50 anos do final do Concílio Vaticano II, no dia 08 de dezembro de 1965.

Christoph Theobald durante Colóquio Vaticano II. Foto: João Vitor Santos

O livro aborda a recepção do Concílio Vaticano II, apresentando visões e pesquisas do autor sobre o assunto. Além disso, é possível perceber que a condução teórica expõe o modo como os documentos conciliares se encaixam com as transformações que ocorrem na igreja hoje. A obra é vista, por especialistas, como técnica e consistente, e que ao mesmo tempo apresenta respostas à sociedade.

Conforme resenha escrita por Gilles Routhier, teólogo e especialista na recepção do Concílio Vaticano II, e publicada neste ano pelo IHU, a obra “impulsiona os estudos sobre o Vaticano II” e Routhier se considera “muito grato pelo trabalho colossal” que Theobald criou.

Segundo Routhier, o trabalho de Theobald se diferencia dos demais por não focar apenas na história do Vaticano II, mas por uma “questão que interessará a uma nova geração: ‘O que podemos esperar do Vaticano II’”, enfatiza.

Especialista nos temas do Concílio Vaticano II, Christoph Theobald é teólogo, jesuíta, professor no Centre Sèvres (Paris) e autor de diversas obras, tais como A revelação (2002) e Transmitir um Evangelho de Liberdade (2007), publicadas no Brasil por Edições Loyola. O professor já esteve no IHU algumas vezes, participando de eventos e contribuindo para os Cadernos Teologia Pública: As narrativas de Deus numa sociedade pós-metafísica: O cristianismo como estilo, nº 58; As grandes intuições de futuro do Concílio Vaticano II: a favor de uma “gramática gerativa” das relações entre Evangelho, sociedade e Igreja, nº 77; e As potencialidades de futuro da Constituição Pastoral Gaudium et Spes: por uma fé que sabe interpretar o que advém – Aspectos epistemológicos e constelações atuais, nº 96.

Neste ano o professor esteve no IHU, durante o II Colóquio Internacional IHU – O Concílio Vaticano II: 50 anos depois, quando apresentou a conferência As potencialidades de futuro da Constituição pastoral Gaudium et spes. Por uma fé que sabe interpretar o que advém – aspectos epistemológicos e constelações atuais e também participou das mesas-redondas do evento. Em 2012 também esteve na Unisinos participando do XIII Simpósio Internacional IHU, Igreja, Cultura e Sociedade: a semântica do Mistério da Igreja no contexto das novas gramáticas da civilização tecnocientífica, ocasião em que ministrou a conferência “As grandes intuições do Concílio Vaticano II: desafios e possibilidades de aproximações às gramáticas atuais”.

A apresentação do primeiro volume desta importante obra teológica, será feita por uma breve resenha feita por Gilles Routhier, em videoconferência.

Na ocasião será servido um simples coquetel.

A atividade é gratuita e aberta ao público.

Ficha Técnica
Título do livro: A recepção do Concílio Vaticano II. I. Acesso à fonte
Título original: La Réception du Concile Vatican II:  I. Accéder à la source
Volume: I
Autor: Christoph Theobald
Ano: 2015
Editora: Unisinos

Por Nahiene Alves

Para ler mais:

“Mapear os processos dentro dos quais os saberes e os poderes agem uns sobre os outros, em um processo de coprodução circular sobredeterminada pela axiomática do capital e por algumas formas contemporâneas de acumulação”, é a proposta do professor Sandro Chignola no artigo que acaba de ser publicado em Cadernos IHU ideias, nº. 228.

O texto, intitulado A vida, o trabalho, a linguagem. Biopolítica e biocapitalismo, é a conferência proferida pelo professor durante o XVII Simpósio Internacional IHU – Saberes e Práticas na Constituição dos Sujeitos na Contemporaneidade, realizado em setembro, na Unisinos São Leopoldo.

No artigo, Chignola esclarece que o conceito de biopolítica não se refere a “um período de transição do capitalismo”, mas sim como um princípio fundamental do capitalismo, onde tudo é movimentado por uma disputa de poder e controle. Nesse sentido, o professor destaca que o neoliberalismo funciona como alavanca para que o “espírito empresarial e a concorrência” atuem como a regra geral na condução do capital.

Além disso, Sandro Chignola fala da relação entre biocapital, entendido como “um dispositivo de acúmulo e de valorização”, e tecnociência; dos processos de acumulação; do capitalismo congnitivo; e de como o biocapitalismo funciona como uma forma de “disciplinamento e captura da vida”. Estes, entre outros, são alguns dos temas abordados pelo filósofo ao longo do texto.

Sobre o autor

Chignola é professor de Filosofia Política no Departamento de Filosofia, Sociologia, Pedagogia e Psicologia Aplicada na Universidade de Pádua, Itália. É doutor em História do Pensamento Político. Realizou pós-doutorado na École des Haute Études en Sciences Sociales e na École Normale Supérieure de Lettres et Scinecs Humaines. É autor, entre outros, de Historia de los conceptos y filosofia política (Madrid: Biblioteca Nueva, 2010).

O professor publicou na edição 214 do Cadernos IHU ideias o texto intitulado Sobre o dispositivo. Foucault, Agamben, Deleuze.

Cadernos IHU ideias

Para acessar a versão on-line desta edição do Cadernos IHU ideias acesse aqui. A versão impressa pode ser retirada na Secretaria do Instituto Humanitas Unisinos – IHU ou solicitada pelo e-mail humanitas@unisinos.br.

Fique atento/a

Já está disponível também a edição Cadernos IHU ideias com o artigo “Um olhar biopolítico sobre a bioética”, escrito pela professora Anna Quintanas Feixas, da Universidade de Girona, na Espanha.

Por Cristina Guerini

Para ler mais

A financeirização da vida. Os processos de subjetivação e a reconfiguração da relação ‘economia e política’  é o tema de capa da revista  IHU On-Line desta semana.

Pesquisadores de várias áreas do conhecimento refletem sobre este fenômeno da vida contemporânea.

Yann Moulier Boutang, redator-chefe da revista Multitudes, numa entrevista ampla e profunda, aponta que a financeirização tem ampla influência na organização social, atingindo aspectos como a biosfera e a noosfera.

Segundo o filósofo e sociólogo italiano Maurizio Lazzarato, a figura do “homem endividado” é uma das engrenagens que colaboram para a produção e reprodução da máquina de guerra do Capital.

Massimo Amato, da Universidade Bocconi, de Milão, afirma que uma das implicações da financeirização é a despolitização da política.

O economista italiano Stefano Zamagni, da Universidade de Bolonha, aponta a economia civil como alternativa à economia financeirizada e globalizada.

O cientista político Giuseppe Cocco, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, destaca o esvaziamento da concepção de esquerda na política.

O filósofo Rodrigo Karmy, da Universidade do Chile, debate a potência anárquica do poder destituinte.

Sandro Luiz Bazzanella, da Universidade do Contestado – UnC, fala sobre a sacralização do dispositivo da economia e do esvaziamento da política.

Para o filósofo Adriano Correia, da Universidade Federal de Goiás – UFG, os conceitos de homo oeconomicus, de Foucault, e animal laborans, de Hannah Arendt, são importantes para pensarmos o tempo presente.

Albert Ogien, cientista social francês, diretor do Institut Marcel Mauss (IMM-EHESS/CNRS), acentua que podemos compreender o nascimento de movimentos políticos sem líder e sem partido a partir do crescimento da autonomia de juízo dos cidadãos.

A publicação da Carta Encíclica do Papa Francisco Laudato Si’ sobre o cuidado da casa comum, é tema da entrevista com Deborah Terezinha de Paula, doutora em Ciência da Religião, pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Ela analisa a impacto e a presença da obra de Teilhard de Chardin no importante documento. Nesta edição também pode ser conferido um Guia de Leitura do documento pontífício.

Por fim, o Prof. Dr. Castor Bartolomé Ruiz publica o quarto artigo da série “A filosofia como forma de vida”, sob o título “A regra da vida (regula vitae), fuga e resistência ao controle social”.

Confira a edição nas versões:

Versão para folhear

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Por Cristina Guerini

Por ocasião do II Colóquio Internacional IHU – O Concílio Vaticano II: 50 anos depois. A Igreja no contexto das transformações tecnocientíficas e socioculturais da contemporaneidade, reunimos uma série de edições de Cadernos Teologia Pública que versam sobre o tema do evento.

(Para acessar ao Caderno na sua versão em PDF basta acessar ao link em cada título).

José Oscar Beozzo, Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular – CESEP

Resumo: Desde o primeiro contato com os povos do Caribe e da América, os europeus que aqui chegaram foram assaltados por 93 capaperguntas de caráter antropológico, político, social, religioso e, finalmente, teológico: “São eles humanos? Possuem uma religião? Qual o seu Deus?” As respostas podiam refletir profunda ignorância ou simplória convicção. Bem depressa, porém, perplexidades, impasses, resistências e confrontos trouxeram à tona a complexa realidade desse choque entre povos, culturas e religiões e as questões pastorais e teológicas ali imbricadas e que, até hoje, pesam na consciência e no caminhar do cristianismo latino-americano. Tomar, pois, a totalidade da realidade como sinal dos tempos e voz de Deus na história; situar a reflexão teológica na intersecção da fé com a esfera econômica, política, social; ler a realidade a partir dos últimos, dos mais pobres e excluídos, aos quais se revela o Deus da Vida, como a seus prediletos; abraçar sua causa e seus sonhos; e empenhar-se pela transformação da injusta realidade como parte essencial do seguimento de Jesus Cristo são alguns dos elementos que configuram o que se convencionou chamar de teologia da libertação.

Palavras-chave: Teologia da Libertação, América Latina, Cultura e Religião.

John O’Malley, Georgetown University

Resumo: A situação atual oferece, para nós que estudamos o Concílio, um ensejo para dar um passo atrás e examiná-lo atentamente. Ao invés de refletir sobre cada um dos dezesseis documentos finais, como se faz habitualmente, sem levar em conta sua unidade de conjunto, podemos tomar fôlego e examiná-los como um corpus único e coerente, com uma mesma proposta no que se refere aos objetivos e aos valores cristãos fundamentais. Enquanto revisitamos o Concílio nessa perspectiva, tomaremos em consideração o evento da eleição de Jorge Mario Bergoglio, como Papa Francisco, ocorrido no dia 13 de março de 2013.

Palavras-chave: Concílio Vaticano II, Papa Francisco, conjuntura.

Massimo Faggioli, University of St. Thomas

Resumo: Gaudium et Spes, um documento que ficou quase “esquecido” durante o pontificado de Bento XVI, é um dos documentos conciliares mais frequentemente citados pelo Papa Francisco. Não há muita dúvida de que a constituição pastoral é o documento-chave do Vaticano II para orientar nossa compreensão do Papa Francisco e sua relação tanto com o próprio Concílio quanto com o período pós-conciliar. Então, qual é o sentido dessa inversão, desse retorno da constituição pastoral do Vaticano II? Qual é o sentido de Gaudium et Spes para os teólogos e fiéis da “Igreja no mundo moderno” de hoje em dia, em um mundo que é significativamente diferente do mundo de 1965?

Palavras-chave: Gaudium et Spes, Concílio Vaticano II, Papa Francisco.

João Batista Libânio, SJ.

Resumo: O Concílio Vaticano II encerrou a longa etapa da Contra-Reforma e da neocristandade, modificando profundamente o clima da Igreja. A sua contextualização implica vários passos, entre os quais destacam-se neste artigo: alguns traços da Igreja da Contra-Reforma; realidades socioculturais que provocaram a crise desse modelo; a crise dentro da Igreja, provocada pela entrada da modernidade; fatores imediatos que decidiram sobre a convocação e a orientação do Concílio nos seus inícios.

Palavras-chave: Concílio Vaticano II, História da Igreja.

Sinivaldo S. Tavares, OFM, Instituto Teológico Franciscano – ITF, de Petrópolis, RJ.

Resumo: Com o presente artigo, busca-se indagar as eventuais afinidades entre Dei Verbum e Gaudium et Spes. O fato de terem sido as duas últimas Constituições aprovadas em sede conciliar, por si só, constitui algo extremamente significativo. O processo de composição de uma e de outra recobre o inteiro arco da realização do Concílio. Sorveram, mais que os demais textos conciliares, a seiva daquele espírito de aggiornamento que andou caracterizando o Vaticano II e, por esta razão, são documentos que recolheram os melhores frutos produzidos durante aquela fecunda estação.

Palavras-chave: Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, Dei Verbum.

José Maria Vigil, Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT/EATWOT)

Resumo: Hoje, torna-se curioso, quase nostálgico, recordar que, na hora de caracterizar “o mundo atual”, naquele distante 1965, um traço que a Gaudium et Spes destacava como surpreendente e inovador era ser uma época de mudanças e de mudanças aceleradas. “Já quase não é possível ao ser humano de hoje dar prosseguimento a essa história tão movimentada, nesta época de mudanças aceleradas”, dizia. E certamente aquele Concílio, por sua vez, introduziu na Igreja uma época acelerada de mudanças religiosas e pastorais.

Christoph Theobald, Faculdade de Teologia de Centre-Sèvres, Paris, França.

Resumo: A imagem do “gancho”, usada por Karl Rahner, nos permite compreender o desafio atual da recepção do Concílio Vaticano II. Em 27 de fevereiro de 1964 ele escreveu para Herbert Vorgrimler: “Voltei ontem de Roma, cansado. Mas lá sempre podemos nos esforçar para evitar o pior e para que, aqui e ali, um pequeno gancho seja suspenso nos esquemas para uma teologia futura”. “Aqui e ali, um pequeno gancho”, eis o potencial de futuro dos documentos conciliares; este potencial, hoje, só pode ser distinguido no diálogo com o nosso próprio diagnóstico do momento presente.

Victor Codina, Universidade Católica de Cochabamba

Resumo: O artigo é motivado pela preocupação de recuperar o significado do Concílio Vaticano II para que sua mensagem seja uma boa notícia para o mundo de hoje. O significado desse evento eclesial é evidenciado, incialmente, mediante uma contextualização da época pré-conciliar (liturgia, movimentos bíblico, patrístico, litúrgico, ecumênico, pastoral; nova 081 capasensibilidade social; figuras teológicas mais relevantes daquele momento) enquanto terreno fértil do Concílio e culmina numa. Num segundo momento, o artigo apresenta o Concílio enquanto tal, apresentando a figura de João XXIII e sua convocação para um aggiornamento da Igreja, uma visão sumária de algumas chaves de leitura do Vaticano II e a síntese final de Paulo VI, caracterizada como “uma espiritualidade samaritana”. Num terceiro momento, após um testemunho de vivências pessoais do Concílio, é feito uma exposição a respeito do pós-concílio, que abrange desde a “primavera eclesial” dos primeiros anos até o mal-estar dos últimos. O artigo conclui articulando a ideia de caos e kairós como expressão das possibilidades da ação do Espírito para o tempo de crise da Igreja nos últimos anos.

Palavras-chave: Concílio Vaticano II, Igreja, pós-concílio, João XXIII, Paulo VI.

Peter C. Phan, Georgetown University

Resumo: Este ensaio apresenta um levantamento da teologia e da prática do diálogo inter-religioso na Igreja Católica Romana desde o término do Concílio Vaticano II em 1965. Estruturado em torno às perguntas “De onde viemos?”, “Onde estamos atualmente?” e “Para onde vamos?”, o texto parte de uma exposição sobre o olhar da Igreja Católica sobre as outras religiões antes da década de 1960, apresenta os acontecimentos mais notáveis nas relações da Igreja Católica com as outras religiões e as mudanças mais significativas na teologia das religiões dos últimos 50 anos, culminando numa indicação de direções e trajetórias para o diálogo inter-religioso nas primeiras décadas deste terceiro milênio cristão.

Palavras-chave: Igreja, Concílio Vaticano II, Dialogo inter-religioso, Religiões.

John W. O’Malley, Georgetown University.

Resumo: “A palavra “humanismo” aparece três vezes nos documentos do Vaticano II, uma vez em sentido positivo e duas em sentido negativo. Portanto, esse termo é ambivalente e pode ter acepções incompatíveis com o catolicismo. Entretanto, se for entendido de maneira apropriada, ele é eminentemente compatível e um termo apropriado para indicar o ideal que o concílio propôs. Entendo que “humanismo”, aplicado ao concílio, indica uma ênfase na dignidade da pessoa humana como ser criado por Deus e redimido por Cristo, uma pessoa que, além disso, age a partir de convicção interior e passa sua vida em interação positiva com outros seres humanos. Minha outra tese é que essa ênfase humanística foi possibilitada porque o Vaticano II adotou uma certa forma de discurso, um certo estilo de falar que era radicalmente diferente do estilo de concílios anteriores. Sustento, portanto, que um aspecto indispensável da hermenêutica do Vaticano II consiste em uma grande atenção ao estilo retórico do concílio e que, se prestarmos atenção a esse estilo, perceberemos por que surgiu a ênfase na dignidade humana e na interação humana.”

Palavras-chave: espiritualidade, humanismo, Concílio Vaticano II.