Mãos pequenas, inquietas, calejadas de uma vida trabalhando arduamente na roça. Olhar distante e encoberto devido à perda da visão do olho direito. Um cenário simples. Sentada na cama, de camisola, meias cor-de-rosa e uma faixa segurando os longos cabelos brancos, assim me recebeu Idalina Soares da Rosa. Uma pequena senhora de incríveis 105 anos.
Há 20 anos na Brás, sendo certamente a moradora mais velha da Vila, em São Leopoldo, RS, Dona Idalina vive seus dias no beco de número 116. Cuidada pela filha, Maria de Fátima Camargo, e pela neta, Raquel Madalena, passa seus dias curtindo os netos e bisnetos, seu cachorro e enfrentando os problemas de saúde decorrentes da idade avançada.
Nascida em Vacaria, RS, Idalina perdeu a mãe no parto e foi criada pelos avós. Casou-se cedo, aos 15 anos. Teve 13 filhos de dois casamentos e já perdeu a conta de quantos netos e bisnetos possui, pois muitos não chegou a conhecer. De descendência alemã e bugre, o que, segunda ela, justifica o sangue forte, Dona Idalina está lúcida, caminha bem, e muitas vezes sai de casa para ir até a Rua 26. “Às vezes ela foge da gente, vai lá na rua atrás dos filhos”, diz a filha Maria de Fátima.
Não sabe ler nem escrever, mas faz contas de cabeça facilmente. Possui uma memória invejável, conta histórias da revolução de 1923 – entre ximangos e maragatos-, e das fugas enfrentadas pelos homens e mulheres de sua família. Quando relembra o passado, o brilho nos olhos reaparece naturalmente: “Antigamente os tempos eram melhores, as pessoas passavam trabalho, mas eram felizes”, diz Idalina. Ao lembrar de sua juventude, anima-se contando dos bailes que ia com a prima, nos quais sempre chegava cantando, outra das coisas que amava fazer. “Aproveitei a vida! Ia nas festas, nos bailes, mas namorar era pouco, namorei apenas duas vezes”, confessa.
Quando questionada sobre o que ainda deseja depois de 105 anos de história, Dona Idalina é modesta: “Desejo saúde para ter ao menos mais um ano de vida”.
Foto: Cristiane Abreu