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Uma centena de histórias

Em 2 dezembro, 2010 Comentar

Mãos pequenas, inquietas, calejadas de uma vida trabalhando arduamente na roça. Olhar distante e encoberto devido à perda da visão do olho direito. Um cenário simples. Sentada na cama, de camisola, meias cor-de-rosa e uma faixa segurando os longos cabelos brancos, assim me recebeu Idalina Soares da Rosa. Uma pequena senhora de incríveis 105 anos.

Há 20 anos na Brás, sendo certamente a moradora mais velha da Vila, em São Leopoldo, RS, Dona Idalina vive seus dias no beco de número 116. Cuidada pela filha, Maria de Fátima Camargo, e pela neta, Raquel Madalena, passa seus dias curtindo os netos e bisnetos, seu cachorro e enfrentando os problemas de saúde decorrentes da idade avançada.

Nascida em Vacaria, RS, Idalina perdeu a mãe no parto e foi criada pelos avós. Casou-se cedo, aos 15 anos. Teve 13 filhos de dois casamentos e já perdeu a conta de quantos netos e bisnetos possui, pois muitos não chegou a conhecer. De descendência alemã e bugre, o que, segunda ela, justifica o sangue forte, Dona Idalina está lúcida, caminha bem, e muitas vezes sai de casa para ir até a Rua 26. “Às vezes ela foge da gente, vai lá na rua atrás dos filhos”, diz a filha Maria de Fátima.

Não sabe ler nem escrever, mas faz contas de cabeça facilmente. Possui uma memória invejável, conta histórias da revolução de 1923 – entre ximangos e maragatos-, e das fugas enfrentadas pelos homens e mulheres de sua família. Quando relembra o passado, o brilho nos olhos reaparece naturalmente: “Antigamente os tempos eram melhores, as pessoas passavam trabalho, mas eram felizes”, diz Idalina. Ao lembrar de sua juventude, anima-se contando dos bailes que ia com a prima, nos quais sempre chegava cantando, outra das coisas que amava fazer. “Aproveitei a vida! Ia nas festas, nos bailes, mas namorar era pouco, namorei apenas duas vezes”, confessa.

Quando questionada sobre o que ainda deseja depois de 105 anos de história, Dona Idalina é modesta: “Desejo saúde para ter ao menos mais um ano de vida”.

Foto: Cristiane Abreu

Cada rosto traz uma história. Vidas que passam quase despercebidas para a maioria, mas que encantam pela simplicidade e intensidade com que acontecem. A partir de hoje, o blog está reeditando uma editoria que fez parte da Revista IHU On-Line, chamada Perfil Popular, na qual esses personagens ganham voz.

Abrir uma loja de roupas parece uma decisão simples. Entretanto, uma família de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, decidiu transpor o projeto para o diminutivo. Os tecidos e o formato são os mesmos, mas as peças cabem na palma da mão. É da comercialização de roupas para bonecas que nasce o sustento do casal Luis e Roseli Schuch. Graças às vendas, conseguem pagar a faculdade da filha de 18 anos.

Roseli trabalhava no setor de Recursos Humanos de uma empresa que há tempos dava sinais de desgaste e prometia fechar as portas. Confeccionar novos modelos para as bonecas da filha deixou de ser apenas uma distração para se tornar a principal fonte de renda. Não demorou para que Luis também abandonasse o trabalho de representante comercial e aderisse à nova atividade.

Para organizar o processo, o casal se divide. Roseli fica com o desenho e a costura, enquanto Luis recorta e se encarrega de comercializar o produto. Semanalmente ele percorre as feiras na região. Na última semana, divulgou o trabalho da família na amostra que ocorreu no Centro Administrativo da Unisinos.

Luis não reclama da clientela. Em muitos dos eventos que participa, consegue vender todas as peças. O lucro chega a R$ 600,00 em algumas das feiras. “A gente vive sem luxo, mas vive bem”, afirma ele, orgulhoso por conseguir pagar um curso universitário para a filha.