Arquivos da categoria ‘Orações inter-religiosas’

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Através de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira,   teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

Canto de Ofício – Mariana Ianelli

A cada dia, por ser hoje,
Eu te agradeço.
Por esse quarto à meia luz
E outros mundos,
Por esse gosto de amêndoa
E outros prazeres.

Pela incerteza essencial
Sobre mim mesma,
E estas palavras
Desde há pouco sem proveito,
Entranha, mistério, vereda
– Eu te agradeço

A cada noite inaugural
E derradeira,
Que me sustém
Não menos que o suficiente,
Bendito o fruto, o sal, o chão
E este silêncio.

Fundo de ravina o meu lugar,
Se já não creio.
Alto de um monte, se resisto.
E descrendo, resistindo,
Eu agradeço.
(…)

Fonte: Mariana Ianelli. Almádena. Iluminura, 2007, p. 75

Mariana Ianelli, é poeta, mestre em Literatura e Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, autora dos livros Trajetória de antes (1999), Duas Chagas (2001), Passagens (2003), Fazer silêncio (2005), Almádena (2007), Treva Alvorada (2010) e O amor e depois (2012). Como ensaísta, é autora de Alberto Pucheu por Mariana Ianelli,  da coleção Ciranda da Poesia (2013). Estreou na prosa com o livro de crônicas Breves anotações sobre um tigre  (2013). Sua página na internet é www.uol.com.br/marianaianelli.

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Através de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira,  teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

Oração a Deus, meu Pai  –  Thomas Merton

Hoje, Pai, este céu Te louva.
O delicado verde e alaranjado da tulipa
Te louvam.
As distantes colinas azuis
Te louvam junto com o ar
Docemente perfumado,
Cheio de luz resplandecente.
As papa-moscas que discutem entre si
Te louvam junto com o gado mugindo
E as codornas que estão piando por aí.
Eu também Te louvo, Pai,
Com essas criaturas,
Meus irmãos e minhas irmãs.
Juntos Tu nos fizeste
E no meio delas me colocaste aqui,
Nesta manhã.
E aqui estou.

Fonte: Thomas Merton. Diálogos com o silêncio. Orações & desenhos. Rio de Janeiro: Fissus, 2003, p. 123.

Thomas Merton (1915-1968): monge católico cisterciense trapista e conselheiro dos grandes papas do século XX. Foi pioneiro no ecumenismo no diálogo com o budismo e tradições do Oriente. O livro Merton na intimidade – Sua Vida em Seus Diários (Rio de Janeiro: Fisus, 2001), é uma seleção extraída dos vários volumes do diário de Thomas Merton, autor de livros famosos como A Montanha dos Sete Patamares (São Paulo: Itatiaia, 1998) e Novas sementes de contemplação (Rio de Janeiro: Fisus, 1999).

 

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Através de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira,  teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:
Vou pertencer você para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águas tem sotaque azul.
Sei botar cílios nos silêncios.
Para encontrar o azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
Não quero a boa razão das coisas.
Quero o feitiço das palavras.

Manoel de Barros

Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT), em 1916. Formou-se em Direito, em 1941, na cidade do Rio de Janeiro. Já no ano seguinte publicou “Face Imóvel” e, em 1946, “Poesias”.

Manoel consagrou-se como poeta nas décadas de 1980 e 1990, quando Millôr Fernandes publicava suas poesias nos maiores jornais do país.

Ele é normalmente classificado na Geração de 45 da literatura. Trabalha bastante com a temática da natureza, mais especificamente, o Pantanal. Mistura estilos e aborda o tema regional com originalidade.

Outros livros do autor: “Compêndio para Uso dos Pássaros”, de 1961, “Gramática Expositiva do Chão”, de 1969, “Matéria de Poesia”, de 1974, “O Guardador de Águas”, de 1989, “Retrato do Artista Quando Coisa”, de 1998, “O Fazedor de Amanhecer”, de 2001, entre outros.

Alguns dos prêmios que o autor recebeu: “Prêmio Orlando Dantas”, em 1960, “Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal”, em 1969. “Prêmio Nestlé”, em 1997 e o “Prêmio Cecília Meireles” (literatura/poesia), em 1998.
Manoel de Barros morreu no dia 13 de novembro de 2014.

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Através de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

O apanhador de desperdícios – Manoel de Barros

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos,
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros

Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT), em 1916. Formou-se em Direito, em 1941, na cidade do Rio de Janeiro. Já no ano seguinte publicou “Face Imóvel” e, em 1946, “Poesias”.

Manoel consagrou-se como poeta nas décadas de 1980 e 1990, quando Millôr Fernandes publicava suas poesias nos maiores jornais do país.

Ele é normalmente classificado na Geração de 45 da literatura. Trabalha bastante com a temática da natureza, mais especificamente, o Pantanal. Mistura estilos e aborda o tema regional com originalidade.

Outros livros do autor: “Compêndio para Uso dos Pássaros”, de 1961, “Gramática Expositiva do Chão”, de 1969, “Matéria de Poesia”, de 1974, “O Guardador de Águas”, de 1989, “Retrato do Artista Quando Coisa”, de 1998, “O Fazedor de Amanhecer”, de 2001, entre outros.

Alguns dos prêmios que o autor recebeu: “Prêmio Orlando Dantas”, em 1960, “Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal”, em 1969. “Prêmio Nestlé”, em 1997 e o “Prêmio Cecília Meireles” (literatura/poesia), em 1998. Manoel de Barros morreu no dia 13 de novembro de 2014.

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Através de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Em Tua bondade – Ansârî

“Meu Deus!
Em Tua bondade
Tu Te mostras a teus amigos,
De modo a embriagar alguns
Com a bebida da intimidade,
E outros mergulhar
No oceano do estupor”

Fonte: Khwâdjâ ´Abd Allâh Ansârî. Cris de coeur. Munâjat. Paris: Cerf, 2010, p. 111.