Arquivos da categoria ‘Opinião’

Quem não reconhece o esgotamento da razão única moderna? Não por isso temos que caminhar na irracionalidade das experiências religiosas que levam a novas formas de violência. Em lugar de buscar uma única razão, podemos ter várias razões para buscar outras dimensões da realidade humana, como a religiosa, que estão para além da racionalidade moderna.

Para isso é necessário balbuciar outra linguagem sobre o contexto atual e buscar novas perspectivas teológicas que incluam, no seu discurso, diversidades históricas, culturais, sociais, ecológicas, poéticas, filosóficas, de gênero etc, dimensões não isoladas, mas em interação e comunicação.

O que vai surgir dessa interação discursiva? Como não existe uma única perspectiva, surgiram ou se desvelaram várias narrativas em que a teologia vai tecendo o seu discurso com humildade e aprendendo de outras ciências e outros saberes, abrindo-se ao mistério que é plural, diverso e amoroso. O Mistério abre para a dinâmica do esvaziamento e da humildade, deixando-se surpreender na imanência da história, mas, ao mesmo tempo, essa imanência do mistério está carregada de transcendência, não se esgotando, por isso mesmo, nas narrativas que já conhecemos.

Porque somente uma corrente filosófica, porque apenas uma teologia, porque só um saber, porque uma única razão, se Deus não pode ser apreendido num único caminho? Ele é o mistério que sempre nos escapa e necessita de vários caminhos de acesso. Por isso, a teologia precisa das outras ciências e dos outros saberes. Ela ilumina, mas também é iluminada.

Explorar o potencial das diferentes narrativas nos coloca a caminho de novas possibilidades, olhares diferentes que dialogam, buscando aprendizagens, compreensões para cenários onde a religiosidade possa escutar dialogar, apreender e narrar com ternura a voz de Deus que se faz presente através de muitas sinfonias.

Na sinfonia do Simpósio Internacional do IHU tem, por exemplo, Narrativas de Deus a partir de Guimarães Rosa, de outras literaturas, da poesia, do diálogo inter-religioso, da música, da teologia feminista, da teologia indígena, da proposta budista, enfim, das narrativas que buscam fazer caminho no meio de uma cultura pós-metafísica.

O Instituto Humanitas UnisinosIHU oferece a possibilidade de debate e acolhida de diferentes narrativas de Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades. Narrativas de Deus desde diferentes ângulos religiosos, cosmológico, linguísticos, culturais.

Veja a programação completa no site www.ihu.unisinos.br.

MS Ana Maria Formoso
Instituto Humanitas Unisinos – IHU

Em preparação ao Fórum Mundial de Teologia e Libertação, que está acontecendo em Belém (PA), até o próximo dia 25/01, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU iniciou uma série de artigos e entrevistas sobre o tema. O conteúdo é publicado nesta página, onde no dia 06 de janeiro de 2009, o frei capuchinho, professor de Teologia da PUC-RS, Luiz Carlos Susin, deixou a sua contribuição.

Na ocasião, Susin ressaltou que para os primeiros que pensaram um Fórum Mundial de Teologia, soava desafiante o slogan cunhado nas primeiras edições do Fórum Social Mundial: Outro Mundo é Possível. Isso, porque em termos teológicos, segundo ele, trata-se de um desafio de ordem “escatológica”, ou seja, que tem ressonâncias de esperança no Reino de Deus. Neste sentido, o frei lança questões inquietantes: “Seriam os movimentos e organizações sociais presentes no Fórum Social Mundial, com os relatos de suas práticas, um “sinal” de outro mundo possível? Haveria algo de messiânico nesses sujeitos históricos frágeis, mas em muitos que se propunham alternativas ao Fórum Econômico Mundial de Davos?”

Para Susin, tais questionamentos começaram a ter caráter de afirmações quando uma pesquisa entre os participantes da terceira edição do Fórum Social Mundial revelou que em torno de 60% dos participantes portavam motivações de ordem espiritual, inclusive com raízes em tradições religiosas, para se dedicarem aos movimentos e organizações sociais. “A partir de então o Fórum Social Mundial contou com um novo espaço, o de Cosmovisões e Espiritualidades”, frisou.

O frei descreve o Fórum como um tempo curto de encontros, de trocas, de debates. É um lugar revelador, agregador e inspirador de muita energia e generosidade. Além disso, reflete as lutas por justiça, as aspirações de paz e convivência plural sem indiferença, enfim tem um sabor de “revelação”. Susin complementa sua afirmação, ao buscar espaço na figura de Deus. “O “lugar teológico” é o espaço indicador de Deus na precariedade humana. Ora, a experiência amorosa é, portanto, um “lugar teológico”. Quanto mais maduro é o amor, maior a experiência de Deus. O que dizer então desta generosidade sem exigência de reciprocidade, a fundo perdido, por um mundo justo e amoroso?”

Embora o diálogo proposto pelo frei seja pertinente, há quem discorde da sua opinião. Frei Fernando, membro da Ordem dos Frades Menores, ao comentar a notícia publicada nesta página, destacou que a discussão abre espaço para várias discussões. No entanto, todas elas são “meramente teóricas” e deixam de lado as “práticas das virtudes”, como o verdadeiro amor e o próprio Deus. Para ele, infelizmente essas discussões meramente teóricas da Teologia da Libertação, esvaziam a alma religiosa do povo, trazendo conseqüências trágicas para a fé e a verdadeira comunhão com Deus, “porque o que prevalece é o discurso teórico dos teólogos da “libertação” e não a graça e o poder de Deus que age nos simples e humildes de coração para libertá-los, de fato, de todo o mal que o aflige.”

Israel

Outra questão que ganhou espaço na página eletrônica do Instituto Humanitas Unisinos – IHU foram os recentes conflitos na Faixa de Gaza, provocados por israelenses e palestinos. Sobre o assunto, repercutimos o artigo do sociólogo Boaventura Souza Santos, que foi enfático ao afirmar que a criação de Israel é um ato de ocupação e como tal terá de enfrentar para sempre a resistência dos ocupados; não haverá nunca paz, qualquer apaziguamento será sempre aparente, uma armadilha a ser desarmada. “É hoje evidente que o verdadeiro objetivo de Israel, a solução final, é o extermínio do povo palestino”, enfatizou.

Para o sociólogo, está ocorrendo na Palestina o mais recente e brutal massacre do povo palestino cometido pelas forças ocupantes de Israel com a cumplicidade do Ocidente, uma cumplicidade feita de silêncio, hipocrisia e manipulação grotesca da informação, que trivializa o horror e o sofrimento injusto e transforma ocupantes em ocupados, agressores em vítimas, provocação ofensiva em legítima defesa.

Boaventura comentou, ainda, que as razões próximas, que originaram o conflito, apesar de omitidas pelos meios de comunicação ocidentais, são conhecidas. “Esta provocação premeditada teve objetivos de política interna e internacional bem definidos: recuperação eleitoral de uma coligação em risco; exército sedento de vingar a derrota do Líbano; vazio da transição política nos EUA e a necessidade de criar um fato consumado antes da investidura do presidente Obama.” Segundo o sociólogo, tudo isto é óbvio mas não nos permite entender o ininteligível: o sacrifício de uma população civil inocente mediante a prática de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade cometidos com a certeza da impunidade.

Ao comentar o artigo, o leitor do sítio do IHU, Rodrigo, revelou sua indignação, em relação ao fato. “Ninguém pode apoiar uma catástrofe que leva tantas vidas quanto a que acontece na Palestina e não acredito que há como defender que os atos de Israel são justos. Há um grave problema de total ausência de discernimento que ocorre nos textos anti-israel recentemente e o texto publicado aqui é antissemita não só por ser antissionista. Nenhum país está livre de condenação e, por certo, não um país que mata tanto quanto o Estado de Israel, mas que não confudamos críticas a Israel com o racismo rasteiro que esse texto invoca”.

Ao ler as Notícias do Dia do sítio do IHU, sinta-se à vontade para fazer seus comentários também. Basta clicar no botão “Comentar esta página”.   

Num momento em que o debate sobre a necessidade de reduzir as energias fósseis tenta convencer o mundo a mudar de postura frente ao meio ambiente, o Brasil pretende aumentar os investimentos em energia suja, e apresenta uma proposta para dobrar o número de usinas termelétricas até 2017. Já é consenso entre os especialistas que energias renováveis devem compor a maior gama da matriz energética brasileira, mas em contra partida, o novo Plano Decenal de Energia, publicado nas Notícias do Dia, parece estar andando na contramão.
Confira a seguir alguns posicionamentos sobre o tema, concedidos com exclusividade à IHU On-Line.

>> Qual sua opinião sobre o Plano Decenal de Expansão de Energia do governo federal, considerando as campanhas mundiais a favor de energias renováveis e do combate ao aquecimento global?

“É uma insanidade esse plano. Como se justifica toda a campanha governamental pelo licenciamento das hidrelétricas no Rio Madeira em contraposição às térmicas? Perdeu-se a seriedade! Por que não investir em políticas de eficiência energética e repotenciação das hidrelétricas existentes? Registro minha indignação.”

Iremar Antonio Ferreira
Sócio-ambientalista e diretor do Instituto Madeira Vivo

“A elaboração dos planos de expansão da oferta energética sofre de um erro de origem: a ausência da sociedade no debate da questão energética, e sua efetiva participação no processo decisório. A ampliação do espaço de debate é fundamental para tornar politicamente sustentável o processo de decisão. O governo não deu muita importância à adoção de novas matrizes de energia renovável no país. As energias renováveis são relegadas no PDEE 2006-2015 e PDEE 2008-2017, enquanto deveriam ser encaradas como a grande solução para a questão energética.”

Heitor Scalambrini Costa
Coordenador dos projetos da ONG Centro de Estudos e Projetos Naper Solar e o Núcleo de Apoio a Projetos de Energias Renováveis – NAPER da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“A questão energética é o ponto mais sensível de nossa civilização. Sem incremento na produção de energia, não será possível manter os padrões de desenvolvimento e conforto que todos esperam. Paradoxalmente, precisamos de urgentes medidas de combate as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, sendo que essas medidas estão intimamente ligadas com a produção de energia oriundas de fontes mais limpas, não o contrário. Assim, equivocada está a política energética brasileira ao prever um aumento na utilização de combustíveis fósseis em vez de fomentar a energia eólica, por exemplo, que já é uma realidade no RS. Desconsiderar as consequencias futuras de nossas decisões erradas, certamente cobrará um preço alto demais no futuro, um preço que certamente não poderemos pagar.”

André Weyermuller
Professor de Direito Ambiental, da Unisinos.

>> Leia algumas edições da IHU On-line sobre a temática.

Alternativas energéticas em tempos de crise financeira e ambiental. Edição número 285, de 09-12-2008;

Energia para quê e para quem? A matriz energética do Brasil em debate. Edição número 236, de 17-09-2007;

Estamos no mesmo barco. E com enjôo. Anotações sobre o Relatório do IPCC. Edição número 215, de 16-04-2007;

A vingança de Gaia. Mudanças climáticas e a vulnerabilidade do Planeta. Edição número 171, de 13-03-2006.