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O Prof. Dr. Evaristo Eduardo de Miranda, mestre e doutor em ecologia pela Universidade de Montpellier, na França, participou nesta terça-feira da programação da Páscoa IHU 2009.

Os dois encontros – “A sacralidade das águas e do fogo” e “As águas e o fogo na natureza e na vida espiritual” – permitiram um percurso pelos territórios do sagrado das tradições judaica e cristã, especialmente com relação a alguns símbolos – como a água e o fogo.

Veja aqui uma pequena entrevista com o Prof. Miranda:

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A Páscoa IHU 2009 conta com uma ampla programação que segue até o dia 26 de abril. Confira aqui mais detalhes. (por Moisés Sbardelotto)

Com a presença de 64 pessoas, a maioria delas estudantes da graduação da Unisinos, bem como da pós-graduação, e do palestrante Prof. Dr. Paulo Brack, foi realizado no dia 12 de março de 2009 mais um IHU Ideias, cuja temática discutiu as crises climática, ecológica e econômica, alertando que estamos diante de uma das últimas chances de reflexão sobre os paradigmas que ameaçam o planeta.

Sim, pode parecer algo um tanto precipitado ou então pessimista, mas foi justamente uma fala em forma de alerta, uma fala militante, em tom de “temos que despertar”, que o professor Brack trouxe à grande plateia que interagiu bastante. Para Brack a crise se acentua a partir de setembro de 2008, na sua face econômica, mas na realidade, o que está por trás das diferentes crises que são “propagadas”, é uma só crise, é a crise portanto.

É a crise de um paradigma dominante, do capitalismo, que tem como princípio que as pessoas podem acumular a vontade, ou seja, o máximo que puderem e conseguirem. Porém, não considera que a natureza não é infinita. Ou seja, para o Professor estamos vivendo não somente uma crise econômica, mas socioambiental e de paradigmas, com um tamanho incomensurável. Crise esta que é sistêmica e que precisa ser vista, pensada e analisada, de forma conjunta, pois é resultado de uma situação que já estava ficando inevitável, sendo prevista por cientistas e pensadores, há mais de um século.

Mostrou ainda que o próprio Planeta Terra vem mostrando esta crise sistêmica quando temos, por exemplo, 90% das mudanças climáticas sendo decorrências das atividades humanas, ou ainda quando se estima um crescimento da temperatura entre 1,8 ºC a 4 ºC, sendo que se ele for maior do que 2 ºC, causa prejuízos à qualidade de vida. Trazendo estes alertas para o Brasil, Brack lembrou que as queimadas na Amazônia já colocaram o Brasil em quarto lugar no ranking dos países que emitem gases que contribuem para o aquecimento global, como o CO2. Mais ainda, a monocultura, principalmente na região da Amazônia, fez com que as secas se espalhassem pelo país nos últimos anos, uma vez que a Amazônia é responsável por um terço das chuvas no Brasil.

Estes paradigmas nos levaram ao desapego do ser humano em relação ao que o rodeia e o que realmente garante a sua sobrevivência. Afirma que temos um paradigma de desapego a Terra, a biodiversidade. No Brasil, por exemplo, temos mais de 50.000 espécies vegetais comestíveis, que poderiam gerar alimentos e inclusive riquezas econômicas. Porém acabamos matando estas espécies com herbicidas, pois as consideramos ervas daninhas e nos alimentamos de pouquíssimos vegetais. Será isso sustentável, questiona ele.

Diante destes fatos que Brack afirma a crise como sistêmica, uma vez que “o neoliberalismo e a economia de mercado, com sua sanha de acumular sem limites os bens da natureza e da força de trabalho dos pequenos, foram longe demais. Dados científicos comprovam também que o uso dos recursos da Terra, atrelado ao circulo vicioso de sempre mais consumo e mais produção, está ultrapassando em muito a capacidade de suporte e recuperação do Planeta. Trata-se do esgotamento não só dos recursos naturais, mas do próprio sistema econômico mundial”.

Para ele “convivemos agora com uma destruição ecossistêmica nunca vista na história. Uma opressão e falta de perspectivas e de valores nos seres humanos. A depressão já é uma doença epidêmica. Algumas grandes corporações que investiram, sem parar, na especulação financeira e no acúmulo dos bens alheios comandam os caminhos errantes de uma economia cada vez mais sem sentido. A globalização econômica é o próprio “Titanic” de um modelo que busca a hipertrofia de capitais, propriedades e poder crescente. Para tal, contam com a privatização dos seus benefícios e a socialização dos prejuízos. Mas tudo isso tem limites. Os icebergs já eram previstos e são vários: mudança climática, desigualdade social insuportável, violência desmedida, esgotamento dos recursos naturais, falta de água potável e de local para o lixo crescentemente descartável, etc. Cabe saber, quando o Titanic afundar de vez – pois já está fazendo água por todos os lados – se têm botes salva-vidas para todos. Ora, se for como o filme – o que é mais provável – já sabemos quem vai se salvar. A primeira classe da claque do próprio Titanic. E o resto?…”

De forma a ilustrar esta vinculação entre problemas como a questão ecológica, econômica, e o equilíbrio do Planeta e dos homens, enfim a crise como sistêmica, Brack compara o mapa do desmatamento do Brasil, com o mapa da emissão de fumaça que contribui para o efeito estufa, comparando-os ainda com o mapa do número de homicídios no país. Os três mapas reproduzidos aparecem nas mesmas regiões, ou seja, é quase óbvio que o mapa da emissão de fumaça e das queimadas sejam muito semelhante. Porém, poucos percebem e sabem que das 10 cidades aonde mais ocorrem homicídios no país, oito delas estão dentro desta região do mapa das queimadas e da emissão da fumaça. Talvez, muitos destes homicídios motivados pelos conflitos de terra, pelo paradigma econômico e de propriedade privada atual. Então, a crise é sim sistêmica. É a crise e não são as crises.

Outro alerta muito importante feito por ele diz respeito à matriz energética que o mundo utiliza e o Brasil também. Ele afirma que a centralização da energia não é mais possível. Precisamos descentralizá-la. As hidroelétricas são responsáveis por mais de 400 mil araucárias submersas em água no RS. Na percepção de Brack “estamos diante da perda de sentido na vida, de uma patologia econômica que vivemos e nos afoga. O paradigma é a produtividade máxima, mais modernamente a competição via “inovação” para manter o consumo máximo, o conforto físico, a uniformidade e a “qualidade” (?), obviamente com competitividade. O caminho individual, imediato, com lucros e sem horizontes é a obsessão. Para isso, o único sentido é o acúmulo de poder e de capital pelos governos, corporações ou pessoas, movido pelo consumo. O emérito geógrafo Milton Santos chamava isso tudo de fundamentalismo”.

Olhando para a realidade local, “tudo indica que no Brasil não é diferente. Os jogadores deste cassino, ou seja, as mesmas grandes empresas e os setores econômicos, engordados pelo BNDES, responsáveis pela crise financeira são os mesmos que agora estão buscando auxílio governamental, apesar das demissões em massa de seus trabalhadores. As perspectivas de o ciclo vicioso seguir são amplas. Lamentavelmente, o Estado brasileiro sempre foi usado pelos setores econômicos mais imediatistas e entreguistas, mantendo benefícios privados pomposos, com os recursos públicos, principalmente ao capital internacional”.

Diante de tudo isso, para o Professor, talvez a crise venha a ser importante pois pode levar a mobilização diante da percepção de que nosso sistema atual está esgotado. Para ele a crise poderá mexer com paradigmas que historicamente vem legitimando o neoliberalismo, mesmo diante da sua não sustentabilidade latente. Mas, para isso, precisamos perceber a crise por meio de uma visão holística e não de forma fragmentada, isolada, como quer a mídia de massa. Está feito o alerta!!!!

Eu, Lucas, concordo com as colocações e me somo aos alertas feitos pelo professor!!! E vocês, o que acham???

Num momento em que o debate sobre a necessidade de reduzir as energias fósseis tenta convencer o mundo a mudar de postura frente ao meio ambiente, o Brasil pretende aumentar os investimentos em energia suja, e apresenta uma proposta para dobrar o número de usinas termelétricas até 2017. Já é consenso entre os especialistas que energias renováveis devem compor a maior gama da matriz energética brasileira, mas em contra partida, o novo Plano Decenal de Energia, publicado nas Notícias do Dia, parece estar andando na contramão.
Confira a seguir alguns posicionamentos sobre o tema, concedidos com exclusividade à IHU On-Line.

>> Qual sua opinião sobre o Plano Decenal de Expansão de Energia do governo federal, considerando as campanhas mundiais a favor de energias renováveis e do combate ao aquecimento global?

“É uma insanidade esse plano. Como se justifica toda a campanha governamental pelo licenciamento das hidrelétricas no Rio Madeira em contraposição às térmicas? Perdeu-se a seriedade! Por que não investir em políticas de eficiência energética e repotenciação das hidrelétricas existentes? Registro minha indignação.”

Iremar Antonio Ferreira
Sócio-ambientalista e diretor do Instituto Madeira Vivo

“A elaboração dos planos de expansão da oferta energética sofre de um erro de origem: a ausência da sociedade no debate da questão energética, e sua efetiva participação no processo decisório. A ampliação do espaço de debate é fundamental para tornar politicamente sustentável o processo de decisão. O governo não deu muita importância à adoção de novas matrizes de energia renovável no país. As energias renováveis são relegadas no PDEE 2006-2015 e PDEE 2008-2017, enquanto deveriam ser encaradas como a grande solução para a questão energética.”

Heitor Scalambrini Costa
Coordenador dos projetos da ONG Centro de Estudos e Projetos Naper Solar e o Núcleo de Apoio a Projetos de Energias Renováveis – NAPER da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“A questão energética é o ponto mais sensível de nossa civilização. Sem incremento na produção de energia, não será possível manter os padrões de desenvolvimento e conforto que todos esperam. Paradoxalmente, precisamos de urgentes medidas de combate as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, sendo que essas medidas estão intimamente ligadas com a produção de energia oriundas de fontes mais limpas, não o contrário. Assim, equivocada está a política energética brasileira ao prever um aumento na utilização de combustíveis fósseis em vez de fomentar a energia eólica, por exemplo, que já é uma realidade no RS. Desconsiderar as consequencias futuras de nossas decisões erradas, certamente cobrará um preço alto demais no futuro, um preço que certamente não poderemos pagar.”

André Weyermuller
Professor de Direito Ambiental, da Unisinos.

>> Leia algumas edições da IHU On-line sobre a temática.

Alternativas energéticas em tempos de crise financeira e ambiental. Edição número 285, de 09-12-2008;

Energia para quê e para quem? A matriz energética do Brasil em debate. Edição número 236, de 17-09-2007;

Estamos no mesmo barco. E com enjôo. Anotações sobre o Relatório do IPCC. Edição número 215, de 16-04-2007;

A vingança de Gaia. Mudanças climáticas e a vulnerabilidade do Planeta. Edição número 171, de 13-03-2006.