A adrenalina é uma substancia liberada pelas glândulas supra-renais, que ficam logo acima dos rins. A substância é liberada quando somos expostos a situações extremas e prepara o nosso corpo para grandes esforços físicos. Há décadas, os esportes radicais são mitificados, pois neste tipo de situação os praticantes põe em xeque sua integridade física.
Mas, e se você não tivesse mais trabalho? Nem perspectiva alguma de vida de um dia para o outro e tivesse de viver na rua? Isto também colocaria sua integridade física e mental em risco e, com certeza, você não seria exaltado com o prestígio e o reconhecimento de um esportista, mas como alguém “à margem” da sociedade.
O Consultório de Rua é um projeto criado a pedido do Ministério da Saúde que tem como objetivo prevenir e melhorar as condições de saúde de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade. Para explicar melhor essa perspectiva de trabalho, o Prof. Dr. Luiz Fernando Silva Bilibio, professor da Unisinos e que trabalha no Consultório na Rua do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) em Porto Alegre, foi o palestrante do IHU ideias da última quinta-feira (21), Inventando Modos de Trabalhar com os Novos “Feios, sujos e Malvados”, onde compartilhou com o público presente suas vivências do dia a dia neste tipo de atendimento.

A relação com o dinheiro para os moradores em situação de rua, pode ser bastante singular, segundo Bilibio, não há um trato de precaução monetária, mas uma perspectiva mais natural se apresenta. Para exemplificar tal atitude a corrente filosófica do cinismo foi citada, “Se leva realmente uma vida ‘de cão’. Dorme-se quando tem sono, come-se quando tem fome”, portanto, para alguns, não há um sentido maior em estar fora da rua, principalmente para algumas crianças e adolescentes que carecem de alguma referência em casa ou passam por situações traumáticas dentro de suas casas.
Ainda assim, o professor enfatiza que se deve ter um cuidado especial ao fazer o acompanhamento desses jovens, “A gente tem procurado prestar um serviço que o morador de rua adolescente nos veja chegando e não corra”.
Apostar no diálogo e nas possibilidades que transmitam alguma cumplicidade ao atendido, mas que também leve as necessidades dele ou dela para fora do ambiente de rua, é a maneira de trabalhar com esses “feios”, “sujos” e “malvados” tão estereotipados e temidos por nós que os olhamos pelas janelas de nossa estabilidade social e financeira.
Por Wagner Altes
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