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Consegue imaginar semelhanças na política econômica dos ex-presidentes João Goulart e Ernesto Geisel? Pois elas existem. Apesar de governarem o Brasil em momentos diferentes e com ideologias distintas, Pedro Cezar Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da UFRGS, encontrou afinidades entre os dois.

O professor realizou nesta terça-feira (18) uma palestra que teve como objetivo analisar a política econômica de João Goulart desde 1961, momento em que assumiu o lugar de Jânio Quadros, até o momento em que deixou o cargo em 1964. Este evento fez parte do ciclo de estudos “50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos”.

Durante a palestra foram abordadas a fase parlamentarista e a presidencialista do governo João Goulart, desde a forma como a inflação foi combatida e os resultados alcançados. Além disso, foi reforçado o fato de que com a queda do PIB e o aumento da inflação surgiu mais um pretexto para que o Golpe de 64 acontecesse.

Outro destaque foi a comparação entre o governo de João Goulart e Ernesto Geisel, presidente entre 1974 e 1979. O professor revelou que ficou impressionado ao descobrir que os objetivos ao longo prazo eram similares, já que os dois buscavam ajustar a estrutura de oferta, simultaneamente à manutenção do crescimento econômico aliando ao financiamento interno.

Ambos perceberam que, para que a indústria voltasse a crescer, era preciso investir em fontes de energia, criando programas para a construção de hidrelétricas e energia nuclear. Além disso, o professor falou sobre as afinidades na ampliação da prospecção e produção de petróleo, incentivo para construção de ferrovias, rodovias e hidrovias.

“Por mais diferentes que fossem as condições históricas em que Goulart e Geisel assumiram, nada impediu a semelhança de diagnóstico e de proposta”, afirmou o economista ao final da palestra. No entanto, por mais que estas semelhanças foram marcantes, ele reforça o fato de que as diferenças não podem ser apagadas.

A programação do “50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos” segue até o dia 24 de abril. O calendário com as atividades pode ser conferido aqui.

Foto: Evandro Teixeira

50 anos após o golpe civil-militar, uma das questões mais pertinentes ainda confunde a população: afinal, quais foram as consequências econômicas deixadas pela Ditadura Militar? Para responder esta pergunta, o Dr. Pedro Cezar Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da UFRGS, e irá apresentar, nesta terça-feira (18), um debate com o tema “Política econômica brasileira e o golpe civil-militar de 1964: contexto e impactos”. O evento faz parte das palestras do Ciclo de Estudos “50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos”.

O evento acontece na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros a partir das 19h30min até às 22h.

Modernização conservadora

Em entrevista concedida à IHU On-Line, o pesquisador abordou o Plano Trienal, elaborado em 1962 pela equipe de Celso Furtado, na época Ministro do Planejamento, que tinha a finalidade de retomar o crescimento do país e promover a distribuição, e que, embora ignoradas inicialmente pelos militares, viriam a serem utilizadas mais tarde pelo governo ditatorial.

Ao assumirem que certas mudanças propostas por Jango eram importantes ao país, os militares decidiram realiza-las sem mexer na questão da propriedade. Assim, optaram por apresentar uma proposta a modernização no campo via crédito, substituindo a reforma agrária. Além de uma reforma tributária, que apesar de modernizar a arrecadação do estado, não contemplava a questão distributiva.

Esta prática é o que o professor chama de “modernização conservadora”: “ao mesmo tempo que moderniza mantém também as estruturas vigentes”, explica.

Sobre o ciclo de estudos

O evento “50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos” é promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU juntamente com diversos PPGs e Cursos de Graduação da Unisinos e tem como objetivo debater transdisciplinarmnte o golpe cívico-militar de 64 com seus antecedentes, significados e repercussões na sociedade brasileira contemporânea. Ao longo das atividades, os participantes poderão compreender melhor o contexto social, político, econômico e cultural brasileiro, latino americano e mundial do Golpe de 64, além de saber quais foram os principais impactos econômicos, políticos, sociais e culturais 50 anos depois.

Você pode acompanhar o calendário com as atividades do evento “50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processosaqui.

Iniciou na última quinta-feira (13), o Ciclo de Estudos que tema como título “50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos”, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU juntamente com diversos PPGs e Cursos de Graduação da Unisinos.

A abertura, realizada na Sala Ignacio Ellacuria e companheiros, iniciou com a conferência “João Goulart e o Comício da Central do Brasil no contexto do Golpe”, realizada pelo Prof. Dr. Claudio Pereira Elmir, professor do curso de História da Unisinos.

O Comício da Central do Brasil, realizado no dia 13 de março de 1964, é considerado pelos historiadores como um momento dramático e histórico no período pré-ditadura, culminando no Golpe 19 dias depois. Nele, João Goulart defendeu as reformas de base propostas pelo seu governo, que visavam modificar as estruturas sociais e econômicas, contando com uma participação de aproximadamente 200 mil pessoas.

Ao retratar o governo de João Goulart, o professor falou sobre o período de conciliação anterior ao Comício, um momento no qual o presidente procura buscar apoio da direita e do centro sem que a relação com os setores da esquerda fosse afetada, com o objetivo de dialogar com os diversos partidos representados no Congresso Nacional.

Para o professor, o Comício de 13 de março foi uma grande mobilização popular chamada pelas bases sindicais, que buscou clamar por estas reformas de base que já vinham sido prometidas pelo governo, mas que não conseguia a aprovação do Congresso Nacional. “Então o Comício se coloca, como uma pressão extraparlamentar com o povo nas ruas para tentar viabilizar as reformas”, ressalta. Desta forma, o Comício era justamente uma forma de pressionar o Congresso para que as Reformas de Base fossem aprovadas.

O Comício foi considerado um momento curto de conciliação com a esquerda. A estratégia proposta durante o ato político foi justamente a de uma mobilização popular de uma série de comícios que seriam realizados até culminar em uma greve geral no dia 1º de maio.

Na visão do pesquisador, foi a partir deste pretexto que a articulação do golpe contra o governo começou a se dar. O discurso anticomunista passou a crescer, levando a realizado da Marcha da Família com Deus pela Liberdade seis dias depois do comício, movimento que segundo ele foi desprezado pelos aliados de Goulart.

Para entender melhor a forma com que o Golpe de 64 foi articulado, o historiador utilizou um trecho da entrevista de Ernesto Geisel, presidente entre 1974 a 1979, realizada pelo jornalista Elio Gaspari em 1981:

“O que houve em 1964 não foi uma revolução. As revoluções fazem-se por uma ideia, em favor de uma doutrina. Nós simplesmente fizemos um movimento para derrubar João Goulart. Foi um movimento contra, e não por alguma coisa. Era contra a subversão, contra a corrupção. Em primeiro lugar, nem a subversão nem a corrupção acabam. Você pode reprimi-las, mas não as destruirá. Era algo destinado a corrigir, não a construir algo novo, e isso não é revolução”.

Durante a palestra, o professor afirmou que a distância temporal é um benefício para compreender melhor o Comício: “O distanciamento do tempo em relação aos eventos originais é benéfico no sentido que a gente tem os eventos nas perspectivas do tempo. Então nós sabemos tudo aquilo que se deu depois de 64. Nós sabemos que houve a Ditadura, mas também que ela acabou”.

Ao fim, o pesquisador falou sobre a importância da realização deste Ciclo de Estudos: “É uma programação muito rica e extraordinária, especialmente porque vão estar aqui no IHU alguns dos maiores especialistas da historiografia brasileira com trabalhos e livros originais sobre o assunto, acho que todos devem vir e participar”.

As atividades do evento “50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos” seguem até o dia 24 de abril, e a programação completa das palestras podem ser obtidas aqui.

Nos próximos meses (março e abril), o Instituto Humanitas Unisinos – IHU promove o evento “50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos”. Para divulgar o evento, foram criadas releituras sobre as canções surgidas ao longo da ditadura. Clássicos como “É Proibido Proibir”, de Caetano Veloso, e “Cálice”, de Chico Buarque.

Ilustração do Evento

“As letras das músicas não podem ser utilizadas de forma totalmente igual. Então, foi criada uma paráfrase sobre elas. O mais interessante do trabalho é fazer uma volta ao tempo e ver como eram os anos 60”, conta Renata Saraiva, responsável pelo Atendimento Publicitário da campanha.

Caio Coelho um dos membros da comissão organizadora do evento e coordenador de publicações do IHU, destacou a importância do movimento tropicalista para a compreensão do regime militar. “Um ícone da ditadura são as fotos da época, como a da morte do jornalista Vladimir Herzog. Outra coisa icônica é a música. A partir disso, surgiu o projeto da campanha ”, aponta.

A realização de “50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos” foi idealizada em julho do ano passado, com o objetivo de promover um debate transdisciplinar sobre o golpe cívico-militar de 64 de forma que a sociedade contemporânea possa recuperar relevantes aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais brasileiros que influenciaram e foram influenciados pelo golpe, propondo uma discussão entre diferentes campos do saber e da ação humana como, por exemplo, a Economia, a História, o Direito e a Ética.

“50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos” terá início no próximo dia 13 de março e se estenderá até o dia 24 de abril. As inscrições são gratuitas.

Confira aqui outras ilustrações do evento.

Conheça toda a programação do  evento!

Dentro da programação do evento “50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos”, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU promove a exibição do documentário “Ato de Fé”, de Alexandre Rampazzo.

Após a exibição do documentário, a Profa. Dra. Maria Aparecida Aquino (FFLCH/USP), coordenará o debate do mesmo.

O evento ocorre dia 08 de abril, das 15h às 16h30min, na Sala Ignácio Ellacuría e Companheiros, no IHU.

Filme: Ato de Fé

O documentário, que abre com a fala de Frei Betto, é um retrato da atuação dos dominicanos, em sua luta contra a ditadura militar implantada no Brasil com o golpe de 64. O centro é o engajamento dos frades com apoio e participação na ALN, o grupo revolucionário criado pelo ex-deputado comunista, Carlos Marighella.

Através do depoimento de religiosos, que de muitas formas apoiaram este e outros grupos que lutavam contra a ditadura, temos um quadro geral da posição da Igreja Católica frente ao regime militar. A contradição entre grande parte da alta hierarquia e os religiosos comprometidos com a Teologia da Libertação é um dos pontos fortes do filme, que se divide em sete partes.

Dando continuidade aos eventos, Maria Aquino participará da palestra “Caminhos Cruzados: Imprensa e Estado Autoritário no Brasil”. A conferência ocorre das 19h30min às 22h, também, na Sala Ignácio Ellacuría e Companheiros, no IHU.

 Para participar do evento, inscreva-se aqui.